segunda-feira, 29 de março de 2010

O FILHO ETERNO – CRISTOVÃO TEZZA


O FILHO ETERNO – CRISTOVÃO TEZZA
Editora Record

Romance que aborda os conflitos de um homem que tem um filho com Síndrome de Down. O protagonista se mostra inseguro, medroso e envergonhado com a situação, mas aos poucos, com muito esforço, enfrenta a situação e passa a conviver amorosamente com o menino.
(http://www.livroselivros.com.br)

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O FILHO ETERNO

Na catalogação do livro, ele aparece como “ romance brasileiro” e, portanto, deve ser lido como um romance, uma ficção, porque É uma ficção, mesmo que baseada em fatos reais. A ficção geralmente tem as pretensões de argumentar sobre pontos de vista comuns (ou incomuns), de educar, entreter, emocionar e para fazer pensar. Mas o principal – talvez até vital – objetivo da ficção é simplesmente contar uma boa história, que o leitor goste e que sinta vontade de ler de novo, de emprestar o livro para os amigos e parentes, e passe até a incorporar alguns trechos dela em sua vida, sentindo-se mais feliz por isso.



O principal fio narrativo da história começa nos anos 80 com um aspirante a escritor, que nunca teve emprego fixo na vida, que é sustentado pela mulher durante o período em que não publica nem vende nada, e que é surpreendido pela notícia do seu primeiro filho ter síndrome de Down. Já no hospital, no dia do nascimento, o pai assume o papel de anti-herói calhorda, hipócrita e insensível (ou simplesmente politicamente incorreto) ao rejeitar e menosprezar aquele filho diferente, o tratando como um estorvo para os seus planos de sucesso, liberdade e sociabilidade. Ele até torce para que o menino morra. E usa o repertório mais inimaginável de palavras para o filho que alguém em sã consciência jamais usaria: algo, a coisa, um ser insignificante, criança horrível, pequeno monstro, pedra inútil, deficiente mental, absolutamente nada, pequeno leproso, problema a ser resolvido, idiota, pequena vergonha, filho-da-puta.O conformismo do pai, que durante a juventude desejava ser um rebelde bem ao estilo Nietzsche de ser, tenta justificar a perda de tempo que a sua vida sempre foi. Ser um marmanjo desempregado sustentado pela mulher é apresentado como não aderir ao sistema e persistir o sonho de tornar-se escritor. Mas cede ao sistema e vai trabalhar como professor público universitário. Não aceitar o filho deficiente, desejando que o menino morra ou abandonar a família para recomeçar sozinho em outro lugar são motivos para alegrá-lo em seus devaneios libertários. Mas só demonstram a vida e pensamento mesquinho do protagonista, quer ele reconheça ou não isso.



O ritmo do livro flui de maneira leve e ágil. Mas não é o suficiente para torná-lo um referencial. Ele usa e abusa da intertextualidade – as referências a outros livros, filmes, pinturas, desenhos animados, etc. – mas fora duas comparações mais acertadas (e perfeitas), como a da rotina diária do menino e a maldição de Sísifo e a do intelecto do filho ao dos bebês incubados em Admirável Mundo Novo, o restante é basicamente só citação.



Tezza confessou que escreveu o livro baseado em sua vida. Ele tem um filho com síndrome de Down. Por isso, está sendo elogiado por ser cruelmente honesto em mostrar seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, mesmo os que deixem o leitor contra ele. Mas, como citado antes, ao optar pela “autobiografia ficcionada”, não se pode encarar o livro como uma biografia, mas como um romance, uma ficção, sob o risco de cair em um laço feito pelo escritor. Por exemplo, se você acusar Tezza de ser ou ter sido um pai insensível, egocêntrico e mau-caráter, ele pode simplesmente sair pela tangente dizendo que esta parte foi ficção, inventada só para deixar a obra mais chamativa e não é a realidade. Até provaria esta afirmação arrolando os outros personagens que aparecem no livro como testemunhas de defesa, porque os pensamentos mesquinhos e egoístas do pai não são compartilhados com outros, são só pensamentos. Ninguém que conheceu Tezza na época do nascimento e crescimento do filho poderia dizer que ele era um crápula. Até porque no livro, o pai escritor mantém as aparências diante dos outros. “A idéia – ou a esperança – de que a criança vai morrer logo tranqüilizou-o secretamente. Jamais partilhou com a mulher a revelação libertadora” (pg. 39). Fica a eterna dúvida: Tezza, como pai, pensava realmente aquilo ou foi só ficção acrescentada para vender o livro? Se ele era daquele jeito, foi preciso coragem para se mostrar publicamente como ele era de verdade e ninguém sabia. Mas, se ele inseriu tais características só para tornar o personagem odioso, mas que inexistem nele, talvez seja a grande sacada do livro, e talvez da vida, do escritor.

(http://pt.shvoong.com/books/romance/1853398-filho-eterno/)




Para saber mais, consulte: http://bibliotecadomjoaquim.blogspot.com/2010/04/o-filho-eterno-cristovao-tezza.html

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