LINDOLF BELL
http://www.lindolfbell.com.br/Biografia.php
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Lindolf Bell, filho de Theodoro e Amália Bell, nasceu na cidade de Timbó em 2 de novembro de 1938. Foi de seus pais que herdou a clareza dos poemas, os quais mesmo sendo produzidos na urbanidade, conservaram elementos da vida agrária. Os pais do poeta eram lavradores, porém, com um grande sentimento e conhecimento de mundo, o que definitivamente ficou enraizado em sua vida e obras.
Ao ser líder do Movimento Catequese Poética, o qual permitiu a milhares de pessoas o acesso à poesia e à arte, Lindolf Bell foi reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Era um homem que abrigava o mundo no coração, que amava os girassóis, que via tudo como missão, encarando a palavra como uma dádiva e fazendo dela um instrumento de comunhão e solidariedade.
Lindolf Bell é atualmente o maior, o mais constante e importante nome da poesia catarinense, assim levantou-se a bandeira “como uma palavra tribal” em prol de sua memória, transformando seu sonho em realidade, buscando cada vez mais fazer com que o “o lugar do poema deve ser onde possa inquietar”
Bell casou-se com Elke Hering (reconhecida artista plástica), com a qual teve 3 (três) filhos: Pedro, Rafaela e Eduardo Bell.
Após difundir seu movimento pelo Brasil e exterior, fixou moradia na cidade de Blumenau, onde, juntamente com a esposa Elke Hering e os amigos Péricles e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira do Estado de Santa Catarina). Além destas atividades, Bell também foi contador, professor, crítico de artes, conselheiro estadual da cultura do Estado de Santa Catarina e marchand (promotor de eventos relacionados à arte).
Foi um nome ligado à invenção lógica, à ousadia, à uma capacidade mágica. Seguindo seus impulsos rompeu as amarras que prendiam a poesia, tornando e exigindo o contato direto com o leitor. Bell também difundiu suas idéias através de painéis-poemas, corpoemas...
Se o ofício do poeta é redescobrir a palavra, como dizia o autor de As Vivências Elementares, nosso ofício é o de redescobrir o poeta, através de suas palavras, tais como aquelas presentes na Metafísica Cotidiana: procuro a palavra-palavra a palavra fóssil, a palavra antes da palavra”. Esse impulso rumo às origens nos torna mais sensíveis e profundos.
Bell amava a terra e tudo o que dela advinha. Mergulhando no drama da humanidade; a sua poesia mantinha-se vibrante. Tratava sempre da vida, da terra, da infância, do destino, da solidão, do efêmero, do transcendente, do sonho e da esperança.
Em uma entrevista do poeta à FCC (Fundação Cultural Catarinense), quando questionado sobre algo de sua residência, o mesmo respondeu: “Todas as coisas que me rodeiam são raízes. A jabuticabeira que deve ter quase cem anos, a caramboleira, os baús, os móveis e todos os objetos antigos não são uma forma triste de memória mas uma afirmação de que, num crescimento espiritual, num crescimento humano não podemos jogar nada pela janela ou no lixo. Não podemos jogar fora as raízes - elas nos preservam e elas se preservam conosco, na memória ou dentro da terra, seja onde for, mas elas também nos projetam porque, à medida que elas se preservam na terra, elas crescem fazem a gente crescer, como uma árvore. O homem é uma árvore que abriga amores, lembranças, outros seres, uma árvore que dá sombra e luz, e é para isso que a gente nasceu, fundamentalmente. Isso eu aprendi, é claro convivendo com meus pais e também com os vizinhos, que tinham maneiras semelhantes de viver e conviver, maneiras simples mas definitivas”, ou seja, é isso que se pretende preservar e que busca-se vislumbrar na Casa do Poeta Lindolf Bell.
Ficamos entristecidos depois de sua partida, o que apenas completava o que sempre dizia: Quanto mais sozinhos menos inteiros. Só nos bastamos na proximidade, em bando. E o bando sem ele é muito pouco. Em 10 de dezembro de 1998 veio a falecer.
"Mas um poeta não morre; pois a vida dos poetas é eterna. Bell colocou um pouco dela em cada palavra que escreveu e, embora seu corpo tenha ido, sua vida continuará espalhada eternamente pelas páginas dos livros que abrigam sua obra, na magia de suas palavras e pelo legado cultural que nos deixou".
OBRAS
1962 Os Póstumos e as Profecias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
1964 Os Ciclos. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1964
1965 Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.
1966 Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.
1966A Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.
1967 Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.
1968 Antologia da Catequese Poética. BELL, Lindolf. MATTOS, Luiz Carlos. JARDIM, Rubens. MÜLLER, Érico Max. SANTANA, Edson R. AGUIAR, Iosito e CARDOSO, Reni. Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.
1971/1979 As Annamárias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1971. (qualificada por Drummond como a mais importante obra lírico-amorosa em língua portuguesa dos últimos anos).
1974 Incorporação. 1ª Edição. São Paulo: Quiron, 1974.
1980 As Vivências Elementares. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.
1984 O Código das Águas. 1ª Edição. São Paulo: Global, 1984. (melhor livro de poesia do ano - Associação Paulista dos Críticos de Artes).
1985 Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.
1987 Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.
1994 Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.
1993 Iconographia. Editora Paralelo: 1993.
1994 Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.
OBRAS TRADUZIDAS
Italiano: In Poesia de Brasile d’Oggi (trav. Salvatore d’Anna) editrice i.l.a. Palma, 1968.
Belga: In Revista “Nieeuw Vlamams Tijdschrift” (trad. Freddy de Vree), Antuérpia, 1969.
Inglês: In Revista “Licor Store”, Iowa USA, 1969 in Brazilian Poets XX Century (trad. Elizabeth Bishop); e in Antologia da Poesia Contemporânea Brasileira (trad. José Neinstein), 1973.
Espanhol: In Tiempo de Poesia Brasileña (trad. Adovaldo Fernandes Sampaio) Buenos Aires, Ediciones de la Flor, 1974.
Angola (África): poemas editados na revista MÁKUA nº 4.
PROJETOS DESENVOLVIDOS E PARTICIPAÇÕES
Catequese Poética (1964)
Movimento de repercussão nacional e de expansão da poesia, que foi iniciado por Lindolf Bell, no qual posteriormente ingressam Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iraci Gentili, Reni Cardoso, Érico Max Muller e outros.
International Writing Program Iowa (1969, USA)
Bell representou o Brasil neste programa internacional de escritores jovens, com a direção de Paul Engle (um dos maiores poetas americanos), em parceria com Elke, fez espetáculos de poesia com objetos criados por ela.
Poema-Objeto (1970)
Participou da I Pré-Bienal de São Paulo com os poemas-objetos.
Corpoemas (1973)
Criou as camisetas com poemas ou fragmentos de poemas, que tiveram várias edições (em 1975 e 1977 em diante). Em parceria com a Malwee, os corpoemas conciliavam poesia às imagens de Lair Leoni Bernardoni (edição dos anos 90), e às pinturas de Lygia Helena R. Neves, chegando a trazer versos em português, inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.
Escultura Mãe-Blumenau (1977)
Projeto de Lindolf Bell para Blumenau, visando homenagear a mãe e a terra blumenauense, tendo como escultura vencedora a obra “Mãe Lavradora”, de Mário Avancini.
Blumenália (1979)
Grande acontecimento na cidade de Blumenau, envolvendo várias manifestações de cultura (ocorerram diversas edições). Em 1969 o nome Blumenália já figurava como o nome de uma coluna do jornal A Cidade - assinada pelo poeta.
Praça do Poema (1982)
A mesma praça que abriga a Escultura Mãe-Blumenau também abriga poemas inscritos em pedras pelos poetas do Vale do Itajaí (Lindolf Bell, José Roberto Rodrigues, Eulália Maria Radtke, Péricles Prade e Márcio Tavares d’ Amaral).
III Bienal Nestlé de Literatura Brasileira (1985)
Participou juntamente com poetas, ensaístas e contistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Postal-Poema (1990)
Postais com fotos de Lair Leoni Bernardoni e poemas de Lindolf Bell.
Painel-Poema (1990)
Painéis com pintura de César Otacílio e poesia de Lindolf Bell, Blumenau (SC).
Flor em Flor (1991)
Projeto de Lindolf Bell e Lair Leoni Bernardoni com poemas e imagens.
Papéis-Carta-Poesia (1992)
Papéis de carta com fotografias de Lair Leoni Bernardoni e poesias de Lindolf Bell.
Selapoesia (1992)
Selos com imagens de Lair Leoni Bernardoni e textos de Lindolf Bell.
Entrelaços (1992 a 1995)
Exposições de fotografias de Lair Leoni Bernardoni e poesias de Lindolf Bell.
Poemadesivos (1993)
Adesivos com imagens de Cao Hering e poemas de Lindolf Bell, cuja produção foi de Horácio Braun.
Praça dos Poetas (1993)
Praça situada em Timbó e que possui poemas de quatro poetas timboenses (Lindolf Bell, Gelindo Sebastião Buzzi, Antônio Juraci Carlini e Péricles Prade), estes inscritos em pedras.
Poemas em Garrafas (1994)
Junto com 13 colegas lança 150 poemas em garrafas no rio Itajaí-Açu (sobre a ponte Aldo Pereira de Andrade).
Calendário de Mesa (1995)
Calendários de Mesa da Blumenhaus (Flor e Poesia), com poemas de Lindolf Bell.
Festival Internacional de Poesia Falada em Medellin-Colômbia (1996)
Representou mais uma vez o Brasil, juntamente com Haroldo de Campos e a convite do Itamaraty e do Ministério da Cultura. Este evento reuniu poetas de vários países.
Taba Telúrica (1996)
Evento reunindo música, poesia, folclore e artes plásticas no Tabajara Tênis Clube, em Blumenau (SC).
Lindolf Bell participou e promoveu ainda inúmeros congressos, seminários, coletivas, semanas e mostras literárias, noites culturais, feiras, encontros de escritores e arte, simpósios de literatura, concursos, exposições, festivais, comissões julgadoras, palestras e convenções, pelo Brasil inteiro.
A VIDA E A OBRA
1938 - Nasceu em Timbó, Santa Catarina, no dia 2 de novembro. Filiação: Theodoro e Amália Bell.
1944 - Foi alfabetizado em alemão pela mãe.
1950 - Concluiu o curso de 1º Grau no Grupo Escolar Polidoro Santiago, situado em Timbó.
1954 - Concluiu o curso de 2º Grau no Ginásio Normal Ruy Barbosa, também situado em Timbó. Foi orador da turma, premiado com cinco medalhas, sendo uma a de melhor aluno de português.
1955 - Morou na cidade de Blumenau, onde fez o curso de Técnico em Contabilidade no Colégio Santo Antônio.
1956 - Conheceu Alzira Hahmann. Surgiram os primeiros poemas de amor.
1957 - Formou-se em Contabilidade, retornou à Timbó.
1958 - Serviu à PE (Polícia do Exército) do Rio de Janeiro.
1959 - Entrou na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No mês de junho, deixou o exército. Na cerimônia de baixa, proclamou um poema no Juramento à Bandeira, evento precursor do movimento da Catequese Poética.
1960 - Voltou à Timbó. Escreveu para jornais e revistas catarinenses (“Revista do Sul”, “A Nação”, “Jornal de Joinville”). Publicou poemas na revista Leitura do Rio de Janeiro.
1962 - Na cidade de São Paulo conheceu a jornalista Maria Serafina de Andrade Vilela, que o apresentou à Cecília Meireles e à Lygia Fagundes Telles. Conheceu também o editor Massao Ohno, que publicou “Os Póstumos e As Profecias”. Na coleção “Novíssimos”, participou ao lado de nomes como Roberto Piva, Claudio Willer, Eunice Arruda, Renata Palotini e Carlos Felipe Moisés. Promoveu a exposição de poemas-murais de autoria dos poetas paulistas e catarinenses (Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis). Participou da coletiva de “poemas-murais” na Biblioteca Mário de Andrade, cidade de São Paulo.
1963 - Ganhou o prêmio “Governador do Estado de São Paulo” como revelação. Foi premiado através de concurso pela Comissão Estadual de Cultura de São Paulo, com o Prêmio Estímulo (gênero poesia).
1964 - Publicou “Os Ciclos”. Iniciou o movimento da Catequese Poética proclamando poemas na boate "Ela, Cravo e Canela", localizada em São Paulo. Realizou diversos recitais em Teatros, Universidades, Escolas e Clubes de São Paulo, onde também se apresentaram Álvaro Alves de Faria, Carlos Soulié do Amaral e Roberto Bicelli.
1965 - Publicou “Convocação”. Realizou na PUC-RJ o I Recital de Poesia em Estádio, no qual compareceram mais de mil estudantes. Ingressaram na Catequese os poetas Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iraci Gentilli, Reni Cardoso, Erico Max Muller e outros.
1966 - O movimento Catequese Poética se intensificou. Viajou por vários estados. Publica “Curta Primavera” e “A Tarefa”. Conhece a cantora lírica Anna Maria Kieffer.
1967 - Publicou “Antologia Poética”. Formou-se em Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo.
1968 - Editou a “Antologia da Catequese Poética”. Após o rompimento com Anna Maria Kieffer, escreveu “As Annamárias”. Casou-se com a escultora Elke Hering.
1969 - Participou do Internacional Writing Programm, na Universidade de Iowa USA. Em Iowa e Chicago fez espetáculos de poesia com objetos criados por Elke. Recebeu uma placa de homenagem conferida pela cidade de Timbó SC ao seu filho Lindolf Bell.
1970 - Fixou moradia em Blumenau. Juntamente com sua esposa Elke e os amigos Péricles Prade e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira galeria de artes do estado) em Blumenau SC. Recebeu uma placa de Homenagem e gratidão conferida pelos Professorandos do Colégio Normal Ruy Barbosa, Timbó SC.
1971 - Publicou “As Annamárias”, obra esta qualificada por Drummond como “a mais importante obra lírico-amorosa em língua portuguesa dos últimos quinze anos”.
1972 - Participou com os poemas-objetos da I Pré-Bienal de São Paulo.
1973 - 1ª Edição dos Corpoemas (camisetas com poemas).
1974 - Publicou “Incorporação”. Recebeu uma placa de agradecimento conferida pela participação na XI Convenção das Domadoras Lions Club de Blumenau SC.
1975 - 2ª Edição dos Corpoemas (camisetas com poemas).
1979 - Recebeu, juntamente com Elke, a placa de Mérito na Arte pelo evento: Blumenau - Ontem e Hoje / Carlos Muller, Blumenau SC.
1980 - Publicou “As Vivências Elementares”. Recebeu um troféu na X Festa de Instalação do Município de Indaial SC, ofertada pela Metalúrgica H Wanke e Marmoraria Indaial Ltda.
1981 - Criou a Praça do Poema em Blumenau. Em São Paulo ganhou o prêmio “Miguel de Cervantes”.
1982 - Viajou à Península Ibérica. Criou a Praça dos Poemas em Blumenau SC. Foi escolhido por unanimidade como Personalidade Cultural pela União Brasileira dos Estudantes.
1984 - Publicou “O Código das Águas”.
1985 - A Associação Paulista dos Críticos de Arte premia a obra “O Código das Águas” como o melhor livro de poesia do ano.
1986 - Começou a trabalhar nas “Odes Ibéricas” do livro inédito “Anima Mundi”.
1987 - Recebeu o troféu Destaque de Literatura.
1989 - Retornou a editar os Corpoemas.
1990 - Juntamente com o artista plástico César Otacílio, criou o primeiro painel-poema do Brasil. Instituiu uma série de cartões-poema do Brasil. Criou a série de cartões-postais e os Ecopoemas, com a fotógrafa Lair Bernardoni. Recebeu o troféu de reconhecimento de sua terra natal, Timbó SC.
1992 - Criou o Jardim dos Poemas em Indaial – SC. Com Lair Bernardoni, institui os papéis-carta-poesia e selapoesia.
1993 - Criou a Praça da Poesia em Timbó – SC; Com Horácio Braun e Cao Hering instituiu poemadesivos.
Com o artista plástico Ronaldo Betaco criou painel-poema, em Chapecó – SC.
Lançou centenas de poemas de avião, sobre Rio do Sul – SC.
Iconographia - Editora Paralelo27/1993.
1995 - Lançamento de poemas engarrafados no rio Itajaí-Açu. Inaugurou painel-poema com Guido Heuer na Prefeitura de Blumenau. Recebeu um troféu em homenagem aos 30 anos da Catequese Poética, conferido pelo Clube Ginástico Guairacás de Timbó SC. Recebeu uma placa da Câmara Municipal de Blumenau SC, conferindo o título de cidadão blumenauense. Ganhou placa de agradecimentos conferida pelo Tabajara Tênis Clube de Blumenau SC. Ganhou placa homenageando o poeta pela contribuição à Literatura Catarinense, conferido pelo I Concurso Literário das Escolas Municipais de Balneário Camboriú SC. Criação do concurso de poesias "Lindolf Bell" pela Fundação Cultural de Timbó.
1996 - Representou o Brasil no VI Festival Internacional de Poesia, de Medelim, por indicação do Ministério da Cultura.
Recebeu um troféu em homenagem aos 30 anos da Catequese Poética, conferido pela Universidade Regional de Blumenau FURB. Recebeu o certificado pelo Dia do Poeta, conferido pelo Rotary Club Hermann Blumenau SC, pelos serviços prestados à comunidade. Recebeu uma placa de homenagem conferida pela Associação dos Moradores do Bairro São Roque de Timbó SC.
1997 - Novamente por indicação, representou o Brasil no Festival Del Sol em Cuba, onde recitou poesias em penitenciárias.
Foi homenageado com Mérito Cultural pela Fundação Cultural de Blumenau SC.
1998 - Recebeu a medalha de Mérito Cultural “Cruz e Souza” em Florianópolis. Recebe do Jornal do Médio Vale de Timbó SC, o troféu Expressão do Médio Vale. Recebeu placa em homenagem pela passagem do Dia do Poeta, conferida pela Secretaria de Educação e Cultura - Departamento de Cultura SC.
Ano de partida de Lindolf Bell (10 de dezembro).
2001 - Foi eleito um dos 20 do Século XX. Uma homenagem aos vinte catarineses que marcaram o Século XX, promovido pela RBS e a Telesc Brasiltelecom, no Centro Integrado de Cultura, Florianópolis/SC.
Fonte: Escritores Catarinenses “Hoje” – n° 2 e o Centro de Memória Lindolf Bell.
CATEQUESE POÉTICA
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Lindolf Bell foi o responsável pelo Movimento de divulgação da poesia junto aos mais diversos públicos, utilizando-se dos meios de comunicação menos tradicionais. A Catequese Poética foi iniciada em 1964, projetando o poeta nacionalmente. Este movimento mobilizou outros artistas, desenvolvendo uma nova linguagem poética e ampliando a intervenção social de jovens escritores. A Catequese Poética é considerada um marco tanto na cultura popular brasileira como na literatura. A partir de Lindolf Bell a poesia assumiu sua função transformadora do tempo, do homem e da sociedade.
A Catequese obteve respaldo popular que ressoou nos sentimentos e nas aspirações do homem, adquirindo uma característica temporal e de reciclagem a cada nova geração. Esta chama acesa na década de sessenta, incorporou novos personagens e assumiu expressões particulares em cada canto que se manifestou. No início o palco era a praça, pois dali extraía-se o pedestre de seu rumo anônimo e indeterminado, reavivando sua condição de homem, cidadão. Como prova desta identidade humana, anos depois Milton Nascimento passou a cantar “o artista tem que ir aonde o povo está”.
Bell consagrou-se com o Movimento, o qual tirou a poesia das gavetas, tornando-a mais acessível através de apresentações, declamações, conferências e debates. Transformou viadutos, praças, boates e estádios em veículos da poesia, com a participação de outros artistas e poetas. Ele seguiu o impulso da ruptura para cantar poemas em praça pública. Os movimentos de arte de rua nasceram de sua coragem.
O poeta dedicou-se à sua catequese poética pelo país e exterior, incentivando a poesia declamada em praça pública.
Como disse Paulo Leminski, “Nunca tinha visto ninguém dizer poemas tão bem, com tanta intensidade, tanta garra, tanto domínio de voz, do gesto e do sentido. A Catequese de Bell, a vanguarda da palavra dita, é um tempo forte dessa efervescência”.
É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recuperou o teor de originalidade (legado por Cruz e Souza) e passou a sugerir algo novo. Não ditava normas para o fazer literário, nem restringia o campo de ação do poeta. Opunha-se a algumas teorias estéticas das vanguardas de 50 e 60, pois era necessário a permanência do vínculo entre o poeta e o seu poema. Exigia do poeta a divulgação direta com o público, pois assim tornava-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor.
A Catequese Poética, possibilitou a agregação de poetas das mais variadas tendências a participaram do Movimento: Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iracy Gentilli, Reni Cardoso, Érico Max Muller, Marli Medalha, Milton Eric Nepomuceno e outros, num convívio sem conflitos estéticos. Estes ingredientes favoreceram os efeitos acústicos e o ritmo, como a repetição e a reiteração.
O convite à participação do público não se dava somente ao nível fônico e visual, mas igualmente, na sugestão contida na matéria tematizada.
Lindolf Bell ficou reconhecido no eixo Rio-São Paulo como o poeta que encantava quando recitava seus poemas.
Começou a estampar diversos epigramas em camisetas, permanecendo assim fiel ao espírito irrequieto e sempre provocador que o identificou ao longo dos anos. Foi brindado na época como o “melhor poeta que interpretou o coração e os anseios da juventude”, “aquele que canta a geração das crianças perdidas” ou até um prosaico “a coqueluche da juventude paulista” (certamente foi um dos brasileiros que mais refletiu sobre os papéis complementares do conteúdo e da forma da poesia).
A Catequese Poética teve menção em diversos eventos. Foi lembrada e comemorada muitas vezes em diversos lugares.
Dentre essas homenagens podemos citar:
- Festival Cultural de Inverno (uma homenagem aos 30 anos da Catequese Poética), julho de 1994, cidade de Blumenau;
- Exposição Iconográfica dos 30 anos de Catequese Poética (exposição intinerante que passou por Florianópolis, Blumenau, Joinville, São Paulo, Rio de Janeiro, Timbó e outras) apoio cultural do BADESC e curadoria de Dennis Radünz;
- Prêmio Othon d’Eça (na passagem dos 30 anos do movimento de catequese) como Escritor do Ano de 1994.
“Até agora Bell é alvo de trinta anos de tecituras, no descuido de procurar a palavra, mas sabendo que é a palavra que o procura e o encontra, quando e onde quiser. A palavra procura palavra antes do poeta. Por estar enterrado na palavra há trinta anos, a palavra sabe como falar Bell. Ela o fala em catequeses poéticas, em códigos de águas, em incorporações. Ela o fala mais pós-modernamente, em corpoemas, ecopoemas e papéis-carta. A palavra engendra o poeta inexoravelmente. Bell reconhece que estamos - todos, poetas e leigos - enterrados na palavra que nos expele ao prazer das suas veleidades lingüísticas. E se conforma com este jugo, bendizendo que “amadureço na palavra que amadurece.
Catequese Poética é essa década multiplicada por três de amadurecimento poético de Lindolf Bell ."
Comentário de José Endoença Martins sobre Bell e os 30 anos de sua Catequese.
OBRA: “O CÓDIGO DAS ÁGUAS”
É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recupera o teor de originalidade, legado por Cruz e Souza, e passa a sugerir algo novo. Não dita normas para o fazer literário, não restringe o campo de ação do poeta. Mas amplia, posto que, opondo-se a algumas teorias estéticas das vanguardas de 50 e 60, pressupõe a permanência do vínculo entre o poeta e o seu poema. Exigindo do poeta a divulgação direta com o público, tornando-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor, a poesia realimenta-se de suas atribuições originais de laudos e desempenho social.
Sendo essa sua orientação básica, a Catequese Poética, liderada por Lindolf Bell, possibilita a agregação de poetas das mais variadas tendências, num convívio sem conflitos estéticos.
Daí o uso de ingredientes que favorecem os efeitos acústicos e o ritmo, como a repetição e a reiteração. O convite à participação do público não se dá somente ao nível fônico e visual, mas igualmente, na sugestão contida na matéria tematizada.
Em Código das Águas afirma-se a trajetória desempenhada pelo poeta enquanto peregrino em busca da poesia ideal. A palavra, aí, é o instrumento capaz de apreender a essência do universo criado. O código das águas reelabora o ideário estético de Lindolf Bell, que tem a ver unicamente com o fluir irredutível, ininterrupto e inclassificável de sua poesia - águas - insubmissa a códigos, exceto o das águas, cuja, codificação nega a si mesmo, exigindo-se a mutabilidade, o dinamismo constante.
ANÁLISE DA OBRA “O CÓDIGO DAS ÁGUAS”
http://www.imaculadanet.com.br/medio/noticia.php?codigo_noticia=190
É uma poesia que celebra o refazer-se, a mudança, a transição e o caráter transitório de tudo, pela “palavra / que em breve / será a palavra dentro em breve. / A palavra /que se reveste de linho real / na linha real da vida: / enfermidade, / efemeridade;
O título da obra fala de uma impossibilidade, uma contradição: suas águas são aquelas do rio heraclitiano, puro movimento, irreptíveis. Portanto, impossíveis de serem codificadas, pois um código sempre é forma, constância, conjunto de regras e padrões estáveis;
Escrevia impelido por uma urgência de dizer algo, de esclarecer e convocar;
No começo dos anos 60, Bell iniciava o seu trabalho de porta-voz, animador cultural, presente nos lugares onde acontecia a vida literária e, ao mesmo tempo, empenhado em buscar outros públicos e fazer-se ouvir num circuito amplo;
A partir de 1968, há uma mudança de rumos: o poeta recolhe-se em SC, sai do circuito, a não ser em aparições eventuais;
Uma característica deste livro em contraste com os dois anteriores, é a sua descontinuidade aparente. As Annamárias e As Vivências Elementares são quase um poema só, dividido em partes, algo com variações sobre o mesmo tema. Aqui, não. Mesmo conservando sua unidade, também apresenta algo de incluso e aberto – justamente por registrar uma passagem, um processo de transformação;
Aqui temos a busca de uma memória anterior e subterrânea, do que não existe mais e mal é abordável pela palavra;
O Código das Águas tem o seu rio: O Ribeirão da Infância de Timbó;
Busca-se a escrita primordial, rasto e inscrição e, ao mesmo tempo, movimento;
O livro é dividido em 5 partes: Poemas, Desterro, Minifúndio, Poema Andarilho e Poemas Finais;
Parte 1 - POEMAS
ð”Procura a palavra palavra”:Busca a origem, a essência da palavra. Busca a escrita fundamental, a marca/inscrição, o movimento. É perceptível a transparência da desconstrução e reconstrução dos signos.
ð”Enfermidade, Efemeridade: Há uma reflexão sobre a poesia, o fazer poético. Através da palavra, recria a realidade, explora seus sentimentos e sua memória. Busca a palavra como código, como símbolo capaz de desvendar os mistérios da vida; Utiliza anáforas:
Por um fio a palavra é prata.
Por um fio a palavra é pata de cavalo.
Por um fio, ato de injustiça
[...]
ð “A palavra destino”: Busca entender o que é Destino e explora os contrários, através de anagramas (“felizes/deslizes, ovo / ave / ovo, folha / flor, versos / reversos, seco / soco, sutil / ardil”. O poeta parafraseia a citação bíblica “Deixai vir a mim as criancinhas porque delas será o Reino do Céu”. Bell busca explicações para as contradições humanas, dos fatos inesperados, do sentido da vida, etc.
ð”Da palavra final nada sei”: Volta ao passado. O eu-lírico deseja a liberdade.
ð”Primeira raiz”: O poeta mostra-se consciente das transformações, mas a memória permance. Usa a aliteração (“porque o que passou / passa / passará”) para reforçar a idéia de distanciamento das ideologias e da origem. O que permanece são as raízes, pois são elas que dão o norte, a direção.
ð”Da certidão ao nascer”: Mostra o amor, o carinho pelo lugar em que nasceu. Neste lugar, nasce sempre; está com ele na memória, na saudade, até nos atos de cinismo e de desprezo que por lá sofreu.
ð”Andorinhas escrevem no ar”: Bell compara a sua arte, o seu fazer poético com as andorinhas. Mesmo publicando ou declamando, a escrita é tão passageira quanto as andorinhas.
ð”O Ribeirão da infância”: A imagem do ribeirão está marcada na memória. Critica o desrespeito para com a natureza; fala do cinismo, do deboche, do jogo se ser e parecer.
ð”Ah! Não fosse este rio chamado amor”: A palavra rio é uma metáfora de amor. Rio este que nasceu dentro do poeta (“não aprendi de livros / nunca desenhei a giz”), está marcado na memória.
ð”Um inseto de Lagoa Santa”: Remete-se ao não mais existente e ao imemorial, Inseto de Lagoa Santa.
ð”Poema para o índio Xokleng”: Fala sobre a violência do homem branco (caraíba) contra os grupos indígenas das regiões de SC, o roubo de suas terras e faz um pedido: “Veste a carapuça e ensina teu filho mais que a verdade camuflada nos livros de história”.
ð”Ah! Não fosse este rio chamado amor”: A palavra rio é uma metáfora de amor. Rio este que nasceu dentro do poeta (“não aprendi de livros / nunca desenhei a giz”), está marcado na memória.
ðHá ainda os poemas “Bem-te-Vi” e “Doído coração doído”.
Parte 2 – DESTERRO
ðApresenta apenas um poema que se divide em duas partes. A primeira parte mostra que o poeta se sente incapaz de aplicar o que aprendeu dos ensinamentos de Platão. Utiliza a comparação: “Me desfaço como um laço / de uma caixa de sapatos de presentes vazia. Na segunda, o poeta sente-se fora do seu mundo particular. Está em outro mundo, o da Capital, entre pessoas que não são afetuosas, que faltam com a verdade. Aqui Bell revela a época em que está, a da Ditatura Militar – “liberdades por decreto” e “a forjada foice da arbitrariedade”.
Parte 3 – MINIFÚNDIO
ðApresenta-se dividida em dezenove poemas pequenos e mostra a interiorização do poeta;
ð Acrescenta à parte os poemas “Espelho I”, “Asa da Primeira Idade”, “Semanário”, “Poema Matemático”, “Deste âmago provo o amargo gosto”, “´É noite em teu jardim, mãe”, “Ouvi a morte passar” e “O poeta descobre-se no sebo”;
ð O poeta defini-se como um “Minifúndio” em que existe apenas a simplicidade, a origem de lavrador;
ð Fala do Vale do Itajaí (guardado na memória);
ð Revela os medos diante das coisas que a vida lhe apresenta;
ð Reflete sobre a complexidade da vida. É das pequenas coisas que podemos realizar grandes questionamentos da vida;
ð Fala da efemeridade das coisas e que a liberdade de todos tem, na verdade, sempre o controle de alguém ou alguma coisa;
ð Fala sobre o destino do homem;
ð Aborda a privação da liberdade - “crime sem regresso”, “a casa desse crime só tem ingresso”;
ð Admirador da natureza, Bell aproveita tudo que possa servi-lhe de inspiração como, por exemplo, a taturana;
ð Critica a ganância do homem, que se esquecendo de viver as coisas mais importantes e belas da vida;
ð Usa a lenda da Esfinge para fazer uma comparação, uma analogia ao tempo e ao homem. A presença do tempo é imperceptível. Homem e tempo passam, estão interligados.
ð O poeta afirma que devemos sonhar sempre. Os sonhos nos levam a perseguir objetivos e norteiam a vida;
ð Faz uma analogia entre o homem e os pássaros. O primeiro, possui uma limitação, seu horizonte é bem menor. Já o segundo tem a liberdade de voar para qualquer lugar.
ð Fala da chuva que envolve tudo: natureza, pessoas e pensamentos.
ð Lembra de um amor vivido (provavelmente em Florianópolis).
ð Esclarece que, na vida, enfrentamos muitos obstáculos e que é preciso vencê-los, para se chegar a algum lugar.
ð É preciso sonhar sempre. Os sonhos nos movem a alcançar os nossos objetivos. Muitas vezes, nós acabamos abandonando alguns sonhos pelo caminho.
ð Para o poeta, o que realmente importa são as coisas do coração.
ð Faz uma crítica à indiferença, ao preconceito. Para o poeta, a solidariedade e a amizade são princípios importantíssimos.
ð Mais uma vez, o poeta faz analogias. Agora, estabelece entre as nuvens e os móveis antigos, de madeira entalhada com desenhos que decoram as salas dos “abastados”. Sente o sacrifício das árvores para satisfazer a vaidade dos homens.
ð Destaca a alegria de viver sem pensar nas coisas ruins nem nas grandiosas.
ð O poeta descreve a relação do espelho com o tempo. O espelho é uma espécie de régua que marca o tempo. É , ao mesmo tempo, misterioso e revelador; breve e eterno. Nada escapa.
ð Fala da liberdade que temos e do pouco que fazemos dela.
Parte 4 – POEMA DO ANDARILHO
ð São seis poemas pequenos dedicados a Nélida Pinon.
ð Todos os poemas tratam do mesmo tema: as experiências do poeta durante a sua vida (alegrias, tristezas, desrespeito, burocracia, lembranças, etc.).
Parte 5 – POEMAS FINAIS
ð É a última parte do livro. Há dois poemas sem título (I e II) e dois outros intitulados “Recôndito Impulso” e “Recado Final”.
ð No poema I, o assunto é a transitoriedade do homem e faz uma homenagem a Manuel Bandeira (“a estrela do amanhã”).
ð No poema II, o tema é o tempo, a alma.
ð Em “Recôndito Impulso”, destaca a palavra, que amadurece, que poetiza através de antíteses, anagramas e metáforas. O poeta trabalha com as palavras, com o ritmo e assonância.
ð Em “Recado Final”, o poeta pede que o poema seja guardado na memória, nas nossas mais ternas lembranças, como “uma chave num colar”.
FONTES:
WILLER, Cláudio. Apresentação. In: BELL, Lindolf. O código das águas. São Paulo : Global. 2001. 5ª ed.
http://www.lindolfbell.com.br/Biografia.php
Ao ser líder do Movimento Catequese Poética, o qual permitiu a milhares de pessoas o acesso à poesia e à arte, Lindolf Bell foi reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Era um homem que abrigava o mundo no coração, que amava os girassóis, que via tudo como missão, encarando a palavra como uma dádiva e fazendo dela um instrumento de comunhão e solidariedade.
Lindolf Bell é atualmente o maior, o mais constante e importante nome da poesia catarinense, assim levantou-se a bandeira “como uma palavra tribal” em prol de sua memória, transformando seu sonho em realidade, buscando cada vez mais fazer com que o “o lugar do poema deve ser onde possa inquietar”
Bell casou-se com Elke Hering (reconhecida artista plástica), com a qual teve 3 (três) filhos: Pedro, Rafaela e Eduardo Bell.
Após difundir seu movimento pelo Brasil e exterior, fixou moradia na cidade de Blumenau, onde, juntamente com a esposa Elke Hering e os amigos Péricles e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira do Estado de Santa Catarina). Além destas atividades, Bell também foi contador, professor, crítico de artes, conselheiro estadual da cultura do Estado de Santa Catarina e marchand (promotor de eventos relacionados à arte).
Foi um nome ligado à invenção lógica, à ousadia, à uma capacidade mágica. Seguindo seus impulsos rompeu as amarras que prendiam a poesia, tornando e exigindo o contato direto com o leitor. Bell também difundiu suas idéias através de painéis-poemas, corpoemas...
Se o ofício do poeta é redescobrir a palavra, como dizia o autor de As Vivências Elementares, nosso ofício é o de redescobrir o poeta, através de suas palavras, tais como aquelas presentes na Metafísica Cotidiana: procuro a palavra-palavra a palavra fóssil, a palavra antes da palavra”. Esse impulso rumo às origens nos torna mais sensíveis e profundos.
Bell amava a terra e tudo o que dela advinha. Mergulhando no drama da humanidade; a sua poesia mantinha-se vibrante. Tratava sempre da vida, da terra, da infância, do destino, da solidão, do efêmero, do transcendente, do sonho e da esperança.
Em uma entrevista do poeta à FCC (Fundação Cultural Catarinense), quando questionado sobre algo de sua residência, o mesmo respondeu: “Todas as coisas que me rodeiam são raízes. A jabuticabeira que deve ter quase cem anos, a caramboleira, os baús, os móveis e todos os objetos antigos não são uma forma triste de memória mas uma afirmação de que, num crescimento espiritual, num crescimento humano não podemos jogar nada pela janela ou no lixo. Não podemos jogar fora as raízes - elas nos preservam e elas se preservam conosco, na memória ou dentro da terra, seja onde for, mas elas também nos projetam porque, à medida que elas se preservam na terra, elas crescem fazem a gente crescer, como uma árvore. O homem é uma árvore que abriga amores, lembranças, outros seres, uma árvore que dá sombra e luz, e é para isso que a gente nasceu, fundamentalmente. Isso eu aprendi, é claro convivendo com meus pais e também com os vizinhos, que tinham maneiras semelhantes de viver e conviver, maneiras simples mas definitivas”, ou seja, é isso que se pretende preservar e que busca-se vislumbrar na Casa do Poeta Lindolf Bell.
Ficamos entristecidos depois de sua partida, o que apenas completava o que sempre dizia: Quanto mais sozinhos menos inteiros. Só nos bastamos na proximidade, em bando. E o bando sem ele é muito pouco. Em 10 de dezembro de 1998 veio a falecer.
"Mas um poeta não morre; pois a vida dos poetas é eterna. Bell colocou um pouco dela em cada palavra que escreveu e, embora seu corpo tenha ido, sua vida continuará espalhada eternamente pelas páginas dos livros que abrigam sua obra, na magia de suas palavras e pelo legado cultural que nos deixou".
OBRAS
1962 Os Póstumos e as Profecias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
1964 Os Ciclos. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1964
1965 Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.
1966 Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.
1966A Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.
1967 Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.
1968 Antologia da Catequese Poética. BELL, Lindolf. MATTOS, Luiz Carlos. JARDIM, Rubens. MÜLLER, Érico Max. SANTANA, Edson R. AGUIAR, Iosito e CARDOSO, Reni. Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.
1971/1979 As Annamárias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1971. (qualificada por Drummond como a mais importante obra lírico-amorosa em língua portuguesa dos últimos anos).
1974 Incorporação. 1ª Edição. São Paulo: Quiron, 1974.
1980 As Vivências Elementares. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.
1984 O Código das Águas. 1ª Edição. São Paulo: Global, 1984. (melhor livro de poesia do ano - Associação Paulista dos Críticos de Artes).
1985 Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.
1987 Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.
1994 Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.
1993 Iconographia. Editora Paralelo: 1993.
1994 Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.
OBRAS TRADUZIDAS
Italiano: In Poesia de Brasile d’Oggi (trav. Salvatore d’Anna) editrice i.l.a. Palma, 1968.
Belga: In Revista “Nieeuw Vlamams Tijdschrift” (trad. Freddy de Vree), Antuérpia, 1969.
Inglês: In Revista “Licor Store”, Iowa USA, 1969 in Brazilian Poets XX Century (trad. Elizabeth Bishop); e in Antologia da Poesia Contemporânea Brasileira (trad. José Neinstein), 1973.
Espanhol: In Tiempo de Poesia Brasileña (trad. Adovaldo Fernandes Sampaio) Buenos Aires, Ediciones de la Flor, 1974.
Angola (África): poemas editados na revista MÁKUA nº 4.
PROJETOS DESENVOLVIDOS E PARTICIPAÇÕES
Catequese Poética (1964)
Movimento de repercussão nacional e de expansão da poesia, que foi iniciado por Lindolf Bell, no qual posteriormente ingressam Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iraci Gentili, Reni Cardoso, Érico Max Muller e outros.
International Writing Program Iowa (1969, USA)
Bell representou o Brasil neste programa internacional de escritores jovens, com a direção de Paul Engle (um dos maiores poetas americanos), em parceria com Elke, fez espetáculos de poesia com objetos criados por ela.
Poema-Objeto (1970)
Participou da I Pré-Bienal de São Paulo com os poemas-objetos.
Corpoemas (1973)
Criou as camisetas com poemas ou fragmentos de poemas, que tiveram várias edições (em 1975 e 1977 em diante). Em parceria com a Malwee, os corpoemas conciliavam poesia às imagens de Lair Leoni Bernardoni (edição dos anos 90), e às pinturas de Lygia Helena R. Neves, chegando a trazer versos em português, inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.
Escultura Mãe-Blumenau (1977)
Projeto de Lindolf Bell para Blumenau, visando homenagear a mãe e a terra blumenauense, tendo como escultura vencedora a obra “Mãe Lavradora”, de Mário Avancini.
Blumenália (1979)
Grande acontecimento na cidade de Blumenau, envolvendo várias manifestações de cultura (ocorerram diversas edições). Em 1969 o nome Blumenália já figurava como o nome de uma coluna do jornal A Cidade - assinada pelo poeta.
Praça do Poema (1982)
A mesma praça que abriga a Escultura Mãe-Blumenau também abriga poemas inscritos em pedras pelos poetas do Vale do Itajaí (Lindolf Bell, José Roberto Rodrigues, Eulália Maria Radtke, Péricles Prade e Márcio Tavares d’ Amaral).
III Bienal Nestlé de Literatura Brasileira (1985)
Participou juntamente com poetas, ensaístas e contistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Postal-Poema (1990)
Postais com fotos de Lair Leoni Bernardoni e poemas de Lindolf Bell.
Painel-Poema (1990)
Painéis com pintura de César Otacílio e poesia de Lindolf Bell, Blumenau (SC).
Flor em Flor (1991)
Projeto de Lindolf Bell e Lair Leoni Bernardoni com poemas e imagens.
Papéis-Carta-Poesia (1992)
Papéis de carta com fotografias de Lair Leoni Bernardoni e poesias de Lindolf Bell.
Selapoesia (1992)
Selos com imagens de Lair Leoni Bernardoni e textos de Lindolf Bell.
Entrelaços (1992 a 1995)
Exposições de fotografias de Lair Leoni Bernardoni e poesias de Lindolf Bell.
Poemadesivos (1993)
Adesivos com imagens de Cao Hering e poemas de Lindolf Bell, cuja produção foi de Horácio Braun.
Praça dos Poetas (1993)
Praça situada em Timbó e que possui poemas de quatro poetas timboenses (Lindolf Bell, Gelindo Sebastião Buzzi, Antônio Juraci Carlini e Péricles Prade), estes inscritos em pedras.
Poemas em Garrafas (1994)
Junto com 13 colegas lança 150 poemas em garrafas no rio Itajaí-Açu (sobre a ponte Aldo Pereira de Andrade).
Calendário de Mesa (1995)
Calendários de Mesa da Blumenhaus (Flor e Poesia), com poemas de Lindolf Bell.
Festival Internacional de Poesia Falada em Medellin-Colômbia (1996)
Representou mais uma vez o Brasil, juntamente com Haroldo de Campos e a convite do Itamaraty e do Ministério da Cultura. Este evento reuniu poetas de vários países.
Taba Telúrica (1996)
Evento reunindo música, poesia, folclore e artes plásticas no Tabajara Tênis Clube, em Blumenau (SC).
Lindolf Bell participou e promoveu ainda inúmeros congressos, seminários, coletivas, semanas e mostras literárias, noites culturais, feiras, encontros de escritores e arte, simpósios de literatura, concursos, exposições, festivais, comissões julgadoras, palestras e convenções, pelo Brasil inteiro.
A VIDA E A OBRA
1938 - Nasceu em Timbó, Santa Catarina, no dia 2 de novembro. Filiação: Theodoro e Amália Bell.
1944 - Foi alfabetizado em alemão pela mãe.
1950 - Concluiu o curso de 1º Grau no Grupo Escolar Polidoro Santiago, situado em Timbó.
1954 - Concluiu o curso de 2º Grau no Ginásio Normal Ruy Barbosa, também situado em Timbó. Foi orador da turma, premiado com cinco medalhas, sendo uma a de melhor aluno de português.
1955 - Morou na cidade de Blumenau, onde fez o curso de Técnico em Contabilidade no Colégio Santo Antônio.
1956 - Conheceu Alzira Hahmann. Surgiram os primeiros poemas de amor.
1957 - Formou-se em Contabilidade, retornou à Timbó.
1958 - Serviu à PE (Polícia do Exército) do Rio de Janeiro.
1959 - Entrou na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No mês de junho, deixou o exército. Na cerimônia de baixa, proclamou um poema no Juramento à Bandeira, evento precursor do movimento da Catequese Poética.
1960 - Voltou à Timbó. Escreveu para jornais e revistas catarinenses (“Revista do Sul”, “A Nação”, “Jornal de Joinville”). Publicou poemas na revista Leitura do Rio de Janeiro.
1962 - Na cidade de São Paulo conheceu a jornalista Maria Serafina de Andrade Vilela, que o apresentou à Cecília Meireles e à Lygia Fagundes Telles. Conheceu também o editor Massao Ohno, que publicou “Os Póstumos e As Profecias”. Na coleção “Novíssimos”, participou ao lado de nomes como Roberto Piva, Claudio Willer, Eunice Arruda, Renata Palotini e Carlos Felipe Moisés. Promoveu a exposição de poemas-murais de autoria dos poetas paulistas e catarinenses (Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis). Participou da coletiva de “poemas-murais” na Biblioteca Mário de Andrade, cidade de São Paulo.
1963 - Ganhou o prêmio “Governador do Estado de São Paulo” como revelação. Foi premiado através de concurso pela Comissão Estadual de Cultura de São Paulo, com o Prêmio Estímulo (gênero poesia).
1964 - Publicou “Os Ciclos”. Iniciou o movimento da Catequese Poética proclamando poemas na boate "Ela, Cravo e Canela", localizada em São Paulo. Realizou diversos recitais em Teatros, Universidades, Escolas e Clubes de São Paulo, onde também se apresentaram Álvaro Alves de Faria, Carlos Soulié do Amaral e Roberto Bicelli.
1965 - Publicou “Convocação”. Realizou na PUC-RJ o I Recital de Poesia em Estádio, no qual compareceram mais de mil estudantes. Ingressaram na Catequese os poetas Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iraci Gentilli, Reni Cardoso, Erico Max Muller e outros.
1966 - O movimento Catequese Poética se intensificou. Viajou por vários estados. Publica “Curta Primavera” e “A Tarefa”. Conhece a cantora lírica Anna Maria Kieffer.
1967 - Publicou “Antologia Poética”. Formou-se em Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo.
1968 - Editou a “Antologia da Catequese Poética”. Após o rompimento com Anna Maria Kieffer, escreveu “As Annamárias”. Casou-se com a escultora Elke Hering.
1969 - Participou do Internacional Writing Programm, na Universidade de Iowa USA. Em Iowa e Chicago fez espetáculos de poesia com objetos criados por Elke. Recebeu uma placa de homenagem conferida pela cidade de Timbó SC ao seu filho Lindolf Bell.
1970 - Fixou moradia em Blumenau. Juntamente com sua esposa Elke e os amigos Péricles Prade e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira galeria de artes do estado) em Blumenau SC. Recebeu uma placa de Homenagem e gratidão conferida pelos Professorandos do Colégio Normal Ruy Barbosa, Timbó SC.
1971 - Publicou “As Annamárias”, obra esta qualificada por Drummond como “a mais importante obra lírico-amorosa em língua portuguesa dos últimos quinze anos”.
1972 - Participou com os poemas-objetos da I Pré-Bienal de São Paulo.
1973 - 1ª Edição dos Corpoemas (camisetas com poemas).
1974 - Publicou “Incorporação”. Recebeu uma placa de agradecimento conferida pela participação na XI Convenção das Domadoras Lions Club de Blumenau SC.
1975 - 2ª Edição dos Corpoemas (camisetas com poemas).
1979 - Recebeu, juntamente com Elke, a placa de Mérito na Arte pelo evento: Blumenau - Ontem e Hoje / Carlos Muller, Blumenau SC.
1980 - Publicou “As Vivências Elementares”. Recebeu um troféu na X Festa de Instalação do Município de Indaial SC, ofertada pela Metalúrgica H Wanke e Marmoraria Indaial Ltda.
1981 - Criou a Praça do Poema em Blumenau. Em São Paulo ganhou o prêmio “Miguel de Cervantes”.
1982 - Viajou à Península Ibérica. Criou a Praça dos Poemas em Blumenau SC. Foi escolhido por unanimidade como Personalidade Cultural pela União Brasileira dos Estudantes.
1984 - Publicou “O Código das Águas”.
1985 - A Associação Paulista dos Críticos de Arte premia a obra “O Código das Águas” como o melhor livro de poesia do ano.
1986 - Começou a trabalhar nas “Odes Ibéricas” do livro inédito “Anima Mundi”.
1987 - Recebeu o troféu Destaque de Literatura.
1989 - Retornou a editar os Corpoemas.
1990 - Juntamente com o artista plástico César Otacílio, criou o primeiro painel-poema do Brasil. Instituiu uma série de cartões-poema do Brasil. Criou a série de cartões-postais e os Ecopoemas, com a fotógrafa Lair Bernardoni. Recebeu o troféu de reconhecimento de sua terra natal, Timbó SC.
1992 - Criou o Jardim dos Poemas em Indaial – SC. Com Lair Bernardoni, institui os papéis-carta-poesia e selapoesia.
1993 - Criou a Praça da Poesia em Timbó – SC; Com Horácio Braun e Cao Hering instituiu poemadesivos.
Com o artista plástico Ronaldo Betaco criou painel-poema, em Chapecó – SC.
Lançou centenas de poemas de avião, sobre Rio do Sul – SC.
Iconographia - Editora Paralelo27/1993.
1995 - Lançamento de poemas engarrafados no rio Itajaí-Açu. Inaugurou painel-poema com Guido Heuer na Prefeitura de Blumenau. Recebeu um troféu em homenagem aos 30 anos da Catequese Poética, conferido pelo Clube Ginástico Guairacás de Timbó SC. Recebeu uma placa da Câmara Municipal de Blumenau SC, conferindo o título de cidadão blumenauense. Ganhou placa de agradecimentos conferida pelo Tabajara Tênis Clube de Blumenau SC. Ganhou placa homenageando o poeta pela contribuição à Literatura Catarinense, conferido pelo I Concurso Literário das Escolas Municipais de Balneário Camboriú SC. Criação do concurso de poesias "Lindolf Bell" pela Fundação Cultural de Timbó.
1996 - Representou o Brasil no VI Festival Internacional de Poesia, de Medelim, por indicação do Ministério da Cultura.
Recebeu um troféu em homenagem aos 30 anos da Catequese Poética, conferido pela Universidade Regional de Blumenau FURB. Recebeu o certificado pelo Dia do Poeta, conferido pelo Rotary Club Hermann Blumenau SC, pelos serviços prestados à comunidade. Recebeu uma placa de homenagem conferida pela Associação dos Moradores do Bairro São Roque de Timbó SC.
1997 - Novamente por indicação, representou o Brasil no Festival Del Sol em Cuba, onde recitou poesias em penitenciárias.
Foi homenageado com Mérito Cultural pela Fundação Cultural de Blumenau SC.
1998 - Recebeu a medalha de Mérito Cultural “Cruz e Souza” em Florianópolis. Recebe do Jornal do Médio Vale de Timbó SC, o troféu Expressão do Médio Vale. Recebeu placa em homenagem pela passagem do Dia do Poeta, conferida pela Secretaria de Educação e Cultura - Departamento de Cultura SC.
Ano de partida de Lindolf Bell (10 de dezembro).
2001 - Foi eleito um dos 20 do Século XX. Uma homenagem aos vinte catarineses que marcaram o Século XX, promovido pela RBS e a Telesc Brasiltelecom, no Centro Integrado de Cultura, Florianópolis/SC.
Fonte: Escritores Catarinenses “Hoje” – n° 2 e o Centro de Memória Lindolf Bell.
CATEQUESE POÉTICA
http://www.lindolfbell.com.br/catequese.php
Lindolf Bell foi o responsável pelo Movimento de divulgação da poesia junto aos mais diversos públicos, utilizando-se dos meios de comunicação menos tradicionais. A Catequese Poética foi iniciada em 1964, projetando o poeta nacionalmente. Este movimento mobilizou outros artistas, desenvolvendo uma nova linguagem poética e ampliando a intervenção social de jovens escritores. A Catequese Poética é considerada um marco tanto na cultura popular brasileira como na literatura. A partir de Lindolf Bell a poesia assumiu sua função transformadora do tempo, do homem e da sociedade.
A Catequese obteve respaldo popular que ressoou nos sentimentos e nas aspirações do homem, adquirindo uma característica temporal e de reciclagem a cada nova geração. Esta chama acesa na década de sessenta, incorporou novos personagens e assumiu expressões particulares em cada canto que se manifestou. No início o palco era a praça, pois dali extraía-se o pedestre de seu rumo anônimo e indeterminado, reavivando sua condição de homem, cidadão. Como prova desta identidade humana, anos depois Milton Nascimento passou a cantar “o artista tem que ir aonde o povo está”.
Bell consagrou-se com o Movimento, o qual tirou a poesia das gavetas, tornando-a mais acessível através de apresentações, declamações, conferências e debates. Transformou viadutos, praças, boates e estádios em veículos da poesia, com a participação de outros artistas e poetas. Ele seguiu o impulso da ruptura para cantar poemas em praça pública. Os movimentos de arte de rua nasceram de sua coragem.
O poeta dedicou-se à sua catequese poética pelo país e exterior, incentivando a poesia declamada em praça pública.
Como disse Paulo Leminski, “Nunca tinha visto ninguém dizer poemas tão bem, com tanta intensidade, tanta garra, tanto domínio de voz, do gesto e do sentido. A Catequese de Bell, a vanguarda da palavra dita, é um tempo forte dessa efervescência”.
É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recuperou o teor de originalidade (legado por Cruz e Souza) e passou a sugerir algo novo. Não ditava normas para o fazer literário, nem restringia o campo de ação do poeta. Opunha-se a algumas teorias estéticas das vanguardas de 50 e 60, pois era necessário a permanência do vínculo entre o poeta e o seu poema. Exigia do poeta a divulgação direta com o público, pois assim tornava-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor.
A Catequese Poética, possibilitou a agregação de poetas das mais variadas tendências a participaram do Movimento: Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iracy Gentilli, Reni Cardoso, Érico Max Muller, Marli Medalha, Milton Eric Nepomuceno e outros, num convívio sem conflitos estéticos. Estes ingredientes favoreceram os efeitos acústicos e o ritmo, como a repetição e a reiteração.
O convite à participação do público não se dava somente ao nível fônico e visual, mas igualmente, na sugestão contida na matéria tematizada.
Lindolf Bell ficou reconhecido no eixo Rio-São Paulo como o poeta que encantava quando recitava seus poemas.
Começou a estampar diversos epigramas em camisetas, permanecendo assim fiel ao espírito irrequieto e sempre provocador que o identificou ao longo dos anos. Foi brindado na época como o “melhor poeta que interpretou o coração e os anseios da juventude”, “aquele que canta a geração das crianças perdidas” ou até um prosaico “a coqueluche da juventude paulista” (certamente foi um dos brasileiros que mais refletiu sobre os papéis complementares do conteúdo e da forma da poesia).
A Catequese Poética teve menção em diversos eventos. Foi lembrada e comemorada muitas vezes em diversos lugares.
Dentre essas homenagens podemos citar:
- Festival Cultural de Inverno (uma homenagem aos 30 anos da Catequese Poética), julho de 1994, cidade de Blumenau;
- Exposição Iconográfica dos 30 anos de Catequese Poética (exposição intinerante que passou por Florianópolis, Blumenau, Joinville, São Paulo, Rio de Janeiro, Timbó e outras) apoio cultural do BADESC e curadoria de Dennis Radünz;
- Prêmio Othon d’Eça (na passagem dos 30 anos do movimento de catequese) como Escritor do Ano de 1994.
“Até agora Bell é alvo de trinta anos de tecituras, no descuido de procurar a palavra, mas sabendo que é a palavra que o procura e o encontra, quando e onde quiser. A palavra procura palavra antes do poeta. Por estar enterrado na palavra há trinta anos, a palavra sabe como falar Bell. Ela o fala em catequeses poéticas, em códigos de águas, em incorporações. Ela o fala mais pós-modernamente, em corpoemas, ecopoemas e papéis-carta. A palavra engendra o poeta inexoravelmente. Bell reconhece que estamos - todos, poetas e leigos - enterrados na palavra que nos expele ao prazer das suas veleidades lingüísticas. E se conforma com este jugo, bendizendo que “amadureço na palavra que amadurece.
Catequese Poética é essa década multiplicada por três de amadurecimento poético de Lindolf Bell ."
Comentário de José Endoença Martins sobre Bell e os 30 anos de sua Catequese.
OBRA: “O CÓDIGO DAS ÁGUAS”
É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recupera o teor de originalidade, legado por Cruz e Souza, e passa a sugerir algo novo. Não dita normas para o fazer literário, não restringe o campo de ação do poeta. Mas amplia, posto que, opondo-se a algumas teorias estéticas das vanguardas de 50 e 60, pressupõe a permanência do vínculo entre o poeta e o seu poema. Exigindo do poeta a divulgação direta com o público, tornando-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor, a poesia realimenta-se de suas atribuições originais de laudos e desempenho social.
Sendo essa sua orientação básica, a Catequese Poética, liderada por Lindolf Bell, possibilita a agregação de poetas das mais variadas tendências, num convívio sem conflitos estéticos.
Daí o uso de ingredientes que favorecem os efeitos acústicos e o ritmo, como a repetição e a reiteração. O convite à participação do público não se dá somente ao nível fônico e visual, mas igualmente, na sugestão contida na matéria tematizada.
Em Código das Águas afirma-se a trajetória desempenhada pelo poeta enquanto peregrino em busca da poesia ideal. A palavra, aí, é o instrumento capaz de apreender a essência do universo criado. O código das águas reelabora o ideário estético de Lindolf Bell, que tem a ver unicamente com o fluir irredutível, ininterrupto e inclassificável de sua poesia - águas - insubmissa a códigos, exceto o das águas, cuja, codificação nega a si mesmo, exigindo-se a mutabilidade, o dinamismo constante.
ANÁLISE DA OBRA “O CÓDIGO DAS ÁGUAS”
http://www.imaculadanet.com.br/medio/noticia.php?codigo_noticia=190
É uma poesia que celebra o refazer-se, a mudança, a transição e o caráter transitório de tudo, pela “palavra / que em breve / será a palavra dentro em breve. / A palavra /que se reveste de linho real / na linha real da vida: / enfermidade, / efemeridade;
O título da obra fala de uma impossibilidade, uma contradição: suas águas são aquelas do rio heraclitiano, puro movimento, irreptíveis. Portanto, impossíveis de serem codificadas, pois um código sempre é forma, constância, conjunto de regras e padrões estáveis;
Escrevia impelido por uma urgência de dizer algo, de esclarecer e convocar;
No começo dos anos 60, Bell iniciava o seu trabalho de porta-voz, animador cultural, presente nos lugares onde acontecia a vida literária e, ao mesmo tempo, empenhado em buscar outros públicos e fazer-se ouvir num circuito amplo;
A partir de 1968, há uma mudança de rumos: o poeta recolhe-se em SC, sai do circuito, a não ser em aparições eventuais;
Uma característica deste livro em contraste com os dois anteriores, é a sua descontinuidade aparente. As Annamárias e As Vivências Elementares são quase um poema só, dividido em partes, algo com variações sobre o mesmo tema. Aqui, não. Mesmo conservando sua unidade, também apresenta algo de incluso e aberto – justamente por registrar uma passagem, um processo de transformação;
Aqui temos a busca de uma memória anterior e subterrânea, do que não existe mais e mal é abordável pela palavra;
O Código das Águas tem o seu rio: O Ribeirão da Infância de Timbó;
Busca-se a escrita primordial, rasto e inscrição e, ao mesmo tempo, movimento;
O livro é dividido em 5 partes: Poemas, Desterro, Minifúndio, Poema Andarilho e Poemas Finais;
Parte 1 - POEMAS
ð”Procura a palavra palavra”:Busca a origem, a essência da palavra. Busca a escrita fundamental, a marca/inscrição, o movimento. É perceptível a transparência da desconstrução e reconstrução dos signos.
ð”Enfermidade, Efemeridade: Há uma reflexão sobre a poesia, o fazer poético. Através da palavra, recria a realidade, explora seus sentimentos e sua memória. Busca a palavra como código, como símbolo capaz de desvendar os mistérios da vida; Utiliza anáforas:
Por um fio a palavra é prata.
Por um fio a palavra é pata de cavalo.
Por um fio, ato de injustiça
[...]
ð “A palavra destino”: Busca entender o que é Destino e explora os contrários, através de anagramas (“felizes/deslizes, ovo / ave / ovo, folha / flor, versos / reversos, seco / soco, sutil / ardil”. O poeta parafraseia a citação bíblica “Deixai vir a mim as criancinhas porque delas será o Reino do Céu”. Bell busca explicações para as contradições humanas, dos fatos inesperados, do sentido da vida, etc.
ð”Da palavra final nada sei”: Volta ao passado. O eu-lírico deseja a liberdade.
ð”Primeira raiz”: O poeta mostra-se consciente das transformações, mas a memória permance. Usa a aliteração (“porque o que passou / passa / passará”) para reforçar a idéia de distanciamento das ideologias e da origem. O que permanece são as raízes, pois são elas que dão o norte, a direção.
ð”Da certidão ao nascer”: Mostra o amor, o carinho pelo lugar em que nasceu. Neste lugar, nasce sempre; está com ele na memória, na saudade, até nos atos de cinismo e de desprezo que por lá sofreu.
ð”Andorinhas escrevem no ar”: Bell compara a sua arte, o seu fazer poético com as andorinhas. Mesmo publicando ou declamando, a escrita é tão passageira quanto as andorinhas.
ð”O Ribeirão da infância”: A imagem do ribeirão está marcada na memória. Critica o desrespeito para com a natureza; fala do cinismo, do deboche, do jogo se ser e parecer.
ð”Ah! Não fosse este rio chamado amor”: A palavra rio é uma metáfora de amor. Rio este que nasceu dentro do poeta (“não aprendi de livros / nunca desenhei a giz”), está marcado na memória.
ð”Um inseto de Lagoa Santa”: Remete-se ao não mais existente e ao imemorial, Inseto de Lagoa Santa.
ð”Poema para o índio Xokleng”: Fala sobre a violência do homem branco (caraíba) contra os grupos indígenas das regiões de SC, o roubo de suas terras e faz um pedido: “Veste a carapuça e ensina teu filho mais que a verdade camuflada nos livros de história”.
ð”Ah! Não fosse este rio chamado amor”: A palavra rio é uma metáfora de amor. Rio este que nasceu dentro do poeta (“não aprendi de livros / nunca desenhei a giz”), está marcado na memória.
ðHá ainda os poemas “Bem-te-Vi” e “Doído coração doído”.
Parte 2 – DESTERRO
ðApresenta apenas um poema que se divide em duas partes. A primeira parte mostra que o poeta se sente incapaz de aplicar o que aprendeu dos ensinamentos de Platão. Utiliza a comparação: “Me desfaço como um laço / de uma caixa de sapatos de presentes vazia. Na segunda, o poeta sente-se fora do seu mundo particular. Está em outro mundo, o da Capital, entre pessoas que não são afetuosas, que faltam com a verdade. Aqui Bell revela a época em que está, a da Ditatura Militar – “liberdades por decreto” e “a forjada foice da arbitrariedade”.
Parte 3 – MINIFÚNDIO
ðApresenta-se dividida em dezenove poemas pequenos e mostra a interiorização do poeta;
ð Acrescenta à parte os poemas “Espelho I”, “Asa da Primeira Idade”, “Semanário”, “Poema Matemático”, “Deste âmago provo o amargo gosto”, “´É noite em teu jardim, mãe”, “Ouvi a morte passar” e “O poeta descobre-se no sebo”;
ð O poeta defini-se como um “Minifúndio” em que existe apenas a simplicidade, a origem de lavrador;
ð Fala do Vale do Itajaí (guardado na memória);
ð Revela os medos diante das coisas que a vida lhe apresenta;
ð Reflete sobre a complexidade da vida. É das pequenas coisas que podemos realizar grandes questionamentos da vida;
ð Fala da efemeridade das coisas e que a liberdade de todos tem, na verdade, sempre o controle de alguém ou alguma coisa;
ð Fala sobre o destino do homem;
ð Aborda a privação da liberdade - “crime sem regresso”, “a casa desse crime só tem ingresso”;
ð Admirador da natureza, Bell aproveita tudo que possa servi-lhe de inspiração como, por exemplo, a taturana;
ð Critica a ganância do homem, que se esquecendo de viver as coisas mais importantes e belas da vida;
ð Usa a lenda da Esfinge para fazer uma comparação, uma analogia ao tempo e ao homem. A presença do tempo é imperceptível. Homem e tempo passam, estão interligados.
ð O poeta afirma que devemos sonhar sempre. Os sonhos nos levam a perseguir objetivos e norteiam a vida;
ð Faz uma analogia entre o homem e os pássaros. O primeiro, possui uma limitação, seu horizonte é bem menor. Já o segundo tem a liberdade de voar para qualquer lugar.
ð Fala da chuva que envolve tudo: natureza, pessoas e pensamentos.
ð Lembra de um amor vivido (provavelmente em Florianópolis).
ð Esclarece que, na vida, enfrentamos muitos obstáculos e que é preciso vencê-los, para se chegar a algum lugar.
ð É preciso sonhar sempre. Os sonhos nos movem a alcançar os nossos objetivos. Muitas vezes, nós acabamos abandonando alguns sonhos pelo caminho.
ð Para o poeta, o que realmente importa são as coisas do coração.
ð Faz uma crítica à indiferença, ao preconceito. Para o poeta, a solidariedade e a amizade são princípios importantíssimos.
ð Mais uma vez, o poeta faz analogias. Agora, estabelece entre as nuvens e os móveis antigos, de madeira entalhada com desenhos que decoram as salas dos “abastados”. Sente o sacrifício das árvores para satisfazer a vaidade dos homens.
ð Destaca a alegria de viver sem pensar nas coisas ruins nem nas grandiosas.
ð O poeta descreve a relação do espelho com o tempo. O espelho é uma espécie de régua que marca o tempo. É , ao mesmo tempo, misterioso e revelador; breve e eterno. Nada escapa.
ð Fala da liberdade que temos e do pouco que fazemos dela.
Parte 4 – POEMA DO ANDARILHO
ð São seis poemas pequenos dedicados a Nélida Pinon.
ð Todos os poemas tratam do mesmo tema: as experiências do poeta durante a sua vida (alegrias, tristezas, desrespeito, burocracia, lembranças, etc.).
Parte 5 – POEMAS FINAIS
ð É a última parte do livro. Há dois poemas sem título (I e II) e dois outros intitulados “Recôndito Impulso” e “Recado Final”.
ð No poema I, o assunto é a transitoriedade do homem e faz uma homenagem a Manuel Bandeira (“a estrela do amanhã”).
ð No poema II, o tema é o tempo, a alma.
ð Em “Recôndito Impulso”, destaca a palavra, que amadurece, que poetiza através de antíteses, anagramas e metáforas. O poeta trabalha com as palavras, com o ritmo e assonância.
ð Em “Recado Final”, o poeta pede que o poema seja guardado na memória, nas nossas mais ternas lembranças, como “uma chave num colar”.
FONTES:
WILLER, Cláudio. Apresentação. In: BELL, Lindolf. O código das águas. São Paulo : Global. 2001. 5ª ed.
http://www.lindolfbell.com.br/Biografia.php
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